Saúde e prevenção

O que é a radiação azul e como posso proteger os meus olhos da mesma?

Tudo sobre a radiação azul e as consequências para os seus olhos e conforto visual

10 abril 2022

Provavelmente já ouviu falar bastante no termo radiação azul nos últimos tempos, mas sabe o que realmente significa e se deveria preocupar-se com o impacto que pode ter na sua saúde? O especialista ZEISS, o Dr. Christian Lappe, responde a algumas perguntas importantes para esclarecer o tema.

  • Óculos com filtro de luz azul

Vivemos numa era digital, passamos cada vez mais tempo a trabalhar e gerimos as nossas vidas através dos dispositivos, tais como smartphones, tablets e computadores. Com a pandemia da COVID-19, assistimos a uma mudança ainda maior no sentido de um estilo de vida digital. De facto, estudos demonstraram que pessoas de todas as idades passam cada vez mais tempo em frente aos dispositivos digitais, desde abril de 2020.1

Esta mudança no estilo de vida tornou as pessoas mais conscientes sobre a transmissão da radiação azul e do efeito potencialmente prejudicial que pode ter nos nossos padrões de sono, assim como na nossa visão.

Mas em que consiste exatamente a radiação azul? Será algo com que nos deveríamos preocupar? O Dr. Christian Lappe, Diretor dos Assuntos Científicos e Comunicação Técnica na ZEISS Vision Care, é especialista em radiação azul. As suas respostas relativamente à radiação azul irão esclarecer algumas preocupações sobre este tema.

Dr. Christian Lappe

Devido a estes achados, tornou-se aparente que a radiação azul desempenha uma função importante em vários elementos muito relevantes da saúde e bem-estar, incluindo os ritmos circadianos, que por sua vez podem afetar os padrões de sono.

Dr. Christian Lappe

Ultimamente ouvimos falar sobre a radiação azul, mas o que é exatamente?

Para compreender o que é a radiação azul, precisamos de algum contexto sobre a forma como o sistema visual humano funciona. Só uma pequena porção do espetro eletromagnético é visível para o aparelho visual humano. Normalmente referimo-nos a esta parte como o "espetro de luz visível" (ELV). O espetro de luz visível (ELV) permite-nos ver e ter a perceção de informações visuais.

A radiação azul faz parte deste espetro de luz visível e tem origem tanto em fontes naturais como artificiais. Possui o comprimento de onda mais curto do espetro de luz visível, mas a energia luminosa mais alta.

O comprimento de onda é medido em nanómetros. O olho humano é capaz de ver luz com cerca de 380-780 nm, situada entre bandas espetrais adjacentes de radiação ultravioleta (RUV) até 400 nm e radiação infravermelha (IR) de 780 nm.

Espetro de luz visível com comprimentos de onda de cor percebido pelo olho humano.
O que é a radiação azul?

O que é a radiação azul?

Normalmente é proveniente de fontes naturais. O Sol é a nossa fonte mais luminosa de luz natural. No entanto, com os avanços tecnológicos, temos também fontes de luz azul artificial que podem emitir radiação eletromagnética e, por conseguinte, também luz azul. As fontes artificiais incluem lâmpadas incandescentes, lâmpadas de descarga de alta pressão ou, hoje em dia, tecnologia baseada cada vez mais em semicondutores ou díodos (emissores de tipo LED são grandes fontes de luz azul artificial).

A radiação azul pode afetar-nos fisicamente? Em caso afirmativo, como?

Sim, pode. Mas para compreendermos como, é necessário algum contexto.

Embora altamente complexo, em termos simplistas consiste no seguinte: a radiação azul penetra no olho e ilumina o nível fotorrecetor da retina do olho. Consoante a geometria, a intensidade e a composição espetral da luz de entrada, diferentes fotorrecetores enviam sinas específicos. Estes sinais são então direcionados ao longo dos percursos visuais até ao cérebro, onde são processados no córtex visual para ajudar a percecionar os objetos no nosso ambiente.

Em primeiro lugar, a luz é necessária para a visão. No entanto, o impacto das cores vai para além do processamento visual. As cores estão também ligadas aos nossos sistemas biológicos e fisiológicos, que podem influenciar e alterar os nossos biorritmos e o bem-estar fisiológico e psicológico. Por conseguinte, as cores podem alterar a nossa perceção do ambiente, provocar associações e emoções e influenciar os nossos ritmos físicos e estados de humor.

Estudos científicos apontam para fortes indícios de que uma exposição inadequada  das células ganglionares dos fotorrecetores da retina à radiação azul, pode agravar algumas patologias oculares associadas à idade, como a degeneração macular, podendo também desencadear problemas ao nível de insónias, depressão e função cognitiva diminuída. Devido a estes achados, tornou-se aparente que a radiação azul desempenha uma função importante em vários elementos muito relevantes da saúde e bem-estar, incluindo os ritmos circadianos, que por sua vez podem afetar os padrões de sono.

A radiação azul proveniente dos dispositivos digitais pode afetar a retina?

Evidências científicas apontam que a luz visível de alta energia (HEV) no limite azul e violeta do espetro é capaz de danificar a retina através de mecanismos fototóxicos. Os efeitos a longo prazo do stress foto-oxidativo, podem também danificar as estruturas das células da retina.
Isto é igualmente verdade no que diz respeito a intensidades altas de luz e componentes da luz azul do espetro da exposição natural à luz azul, por ex. do sol.

Existe um vasto número de artigos científicos que concluem que os ecrãs digitais típicos e a iluminação dos edifícios, que utilizam tecnologia LED, não são considerados nocivos para a retina humana. As intensidades típicas destas fontes estão muito abaixo dos limiares atuais dos riscos fotobiológicos.
Por conseguinte, a evidência científica atual não confirma um risco médico específico ou perigo agudo para a retina associado à iluminação LED e aos dispositivos digitais.

Não obstante,  é do conhecimento comum que o olho deve ser protegido da exposição solar intensa incluindo a radiação UV e a luz visível de alta energia (por ex., radiação azul). É igualmente importante evitar olhar fixamente para fontes de potência alta, tais como ponteiros de laser (independentemente da cor do feixe do laser).

Quais as consequências da radiação azul nos meus olhos?

A radiação azul é necessária para o olho humano e para a visão de alto contraste. A captação da radiação azul através das células ganglionares fotossensíveis da retina é essencial para o nosso bem-estar.

Felizmente, as evidências indicam que os ecrãs digitais não causam lesões diretas na retina. No entanto, existem certos efeitos optofísicos relacionados com a penetração da radiação azul no olho (cristalino e humor vítreo). Estes efeitos estão relacionados com uma visão limitada e a uma sensação de desconforto visual.

Visualização esquemática da dispersão da luz no olho.

Visualização esquemática da dispersão da luz no olho.

A radiação azul, devido ao seu comprimento de onda mais curto, pode criar mais luz dispersa e é suscetível a efeitos como as chamadas aberrações cromáticas longitudinais (ACL). A radiação azul excessiva dos vários dispositivos digitais, pode induzir sensações incómodas na visão, muitas vezes descritas pelas pessoas que as sentem como um "ruído visual".

Dado que é um tema de investigação muito atual, ainda não há estudos conclusivos sobre os possíveis efeitos prejudiciais do excesso de radiação azul à noite. No entanto, a Luz Artificial à Noite (ALAN) interfere com os ciclos de vigília/sono naturais, em particular nos adolescentes.

É aparente um grau elevado de discordância no tema. A radiação azul é nociva para os meus olhos?

Uma vez que provoca efeitos oculares benéficos e prejudiciais, o espetro da radiação azul não pode ser rotulado como simplesmente bom ou mau.
A ZEISS refere-se a isto como o "dualismo da luz azul". Se quisermos combater os riscos de lesões oculares, temos de o fazer com muito cuidado para não causar outros problemas.

Por exemplo, no passado algumas lentes bloqueavam a luz, para diminuir quase toda ou toda a radiação azul. Se esta abordagem for usada sem a devida ponderação, podem ocorrer problemas graves. O primeiro é que as lentes que bloqueiam a radiação azul podem tornar o mundo intensamente amarelo ou laranja. Geralmente, estas lentes não são muito bem toleradas. O segundo problema é o impacto negativo no contraste e na visão das cores. O terceiro problema de remover completamente a radiação azul das lentes, é que pode ter é o impacto negativo na regulação dos seus ritmos circadianos.

No que diz respeito à radiação azul, estamos perante um ato de equilíbrio. Por um lado, queremos proteger a retina dos níveis significativamente altos de radiação azul, que é predominantemente originada pelo sol. Queremos também reduzir moderadamente a quantidade de radiação azul digital proveniente dos dispositivos digitais, com o objetivo de evitar o desconforto visual e a ajudar a gerir o stress visual digital (SVD). No entanto, não se pretende bloquear a radiação azul benéfica, pois esta pode interferir no ciclo diurno natural da atividade de vigília e do sono reparador.

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Mencionou o stress visual digital. O que é exatamente e quais são os sintomas?

O stress visual digital (SVD) consiste num problema de saúde pública emergente caracterizado pela perturbação visual e/ou desconforto ocular. Conforme mencionado na introdução desta entrevista, a maior utilização dos dispositivos digitais no trabalho e em atividades relacionadas com o estilo de vida é uma tendência universal. A SVC (ou síndrome de visão de computador) consiste numa combinação de problemas dos olhos e da visão, causadas por trabalhos visuais prolongados com computadores, smartphones, leitores eletrónicos e outros afins. A SVC inclui vários sintomas como o cansaço visual muscular, desconforto ocular, olhos cansados, comichão, dores de cabeça, visão desfocada e visão dupla. Estes sintomas podem estar relacionados com estruturas oculares e incluem ardor nos olhos (olhos secos e irritados) ou com processos visuais incluindo anomalias na refração, acomodação ou na visão binocular.

Como posso proteger os meus olhos da radiação azul?

Usando lentes que bloqueiam a radiação azul. No entanto, proteger os olhos e, em particular, as estruturas intraoculares contra a radiação azul não é um processo simples. A cobertura ocular de filtros e os bloqueadores de cores fortes são eficazes, mas estão associados a graves limitações na visão, perceção e bem-estar.

Um desafio mais complexo e extremamente técnico é criar um bloqueio inteligente da radiação azul, que atenua a banda espetral desejada, mas dentro dos limites do aceitável para o utilizador. Os filtros inteligentes da radiação azul nas lentes oftálmicas de uso diário, podem ser introduzidos graças à ciência dos materiais e dos tratamentos. Em termos mais técnicos: aditivos do substrato específicos para o material da lente, podem diminuir o bloqueio da radiação específica dos espetros através de um processo de absorção. Os comprimentos de onda desejados são absorvidos nas moléculas do substrato e a energia dos fotões inerentes é transferida em energia não óptica dentro do substrato.

Outra opção para filtrar a radiação luz azul é através do uso de lentes que bloqueiam a mesma com tratamentos funcionais na superfície da lente. Tais tratamentos refletem os espetros desejados, para que a radiação refletida não penetre na lente.
Com ambas as abordagens, a radiação refletida e a radiação absorvida dentro do substrato não atingem o olho e a retina.

Porque é tão importante proteger os meus olhos da radiação azul?

Dá resposta a duas necessidades principais:

  1. Prevenção e proteção dos efeitos degenerativos a longo prazo da exposição à radiação azul de alta intensidade, que é proveniente da luz diurna natural. A energia intrínseca da radiação azul pode desencadear e promover o stress foto-oxidativo nas células da retina. Considera-se que estes processos fototóxicos sejam cumulativos e possam dar origem a danos oculares, tais como a conhecida Degeneração Macular relacionada com a Idade (DMRI).

  2. A outra necessidade está relacionada com o conforto visual. A radiação azul pode causar a dispersão intraocular e aberrações cromáticas, que se considera que contribuam para o stress visual digital. A radiação azul em excesso foi também identificada como um dos culpados do encandeamento psicológico.

Qual a diferença entre um tratamento da lente e uma proteção de radiação azul incorporada na própria estrutura da lente?

Os filtros inteligentes da radiação azul nas lentes oftálmicas de uso diário, podem ser introduzidos graças à ciência dos materiais e dos tratamentos. Aditivos do substrato especiais para o material da lente podem diminuir o bloqueio de radiação específica do espetro, através de um processo de absorção. Os comprimentos de onda desejados são absorvidos nas moléculas do substrato e a energia dos fotões inerentes é transferida em energia não óptica dentro do substrato.

Outra forma de filtrar a luz azul é através de tratamentos funcionais na superfície da lente. Tais tratamentos refletem os espetros desejados, para que a radiação refletiva não penetre na lente. Não devem ser confundidos com tratamentos antirreflexos (AR) que são normalmente aplicados em lentes premium para evitar reflexos incómodos. O tratamento da lente para a proteção contra a radiação azul incorporado nas lentes reflete apenas uma parte e intensidade específicas do espetro que se pretende bloquear e, por conseguinte, é uma modificação específica de um tratamento antirreflexo.

Lentes para óculos ZEISS

Ouvi dizer que a ZEISS desenvolveu uma nova tecnologia de lentes, que incorpora a proteção contra a radiação azul na própria estrutura da lente. Explique-nos de que forma funcionam as Lentes ZEISS BlueGuard.

As Lentes ZEISS BlueGuard usam a mais recente tecnologia orgânica e química, na qual moléculas de absorção da radiação azul específicas no substrato da lente bloqueiam partes específicas do espetro da radiação azul. Lentes anteriores com proteção contra a radiação azul incorporada no próprio material demonstraram uma redução na transmissão e na transparência da lente devido aos aditivos de cor cinzento/azul, que eram usados para compensar os efeitos amarelados. No entanto, com a nossa mais recente tecnologia, os cientistas de materiais da ZEISS chegaram ao melhor equilíbrio entre nitidez e transmissão. As Lentes ZEISS BlueGuard bloqueiam até 40 % da radiação azul potencialmente nociva e oferecem uma proteção completa contra a radiação UV até aos 400 nm.1

Lentes ZEISS BlueGuard
Tratamento ZEISS DuraVision BlueProtect
À esquerda lentes ZEISS BlueGuard. À direita tratamento ZEISS DuraVision BlueProtect.

Continuam a haver aqueles incómodos reflexos visíveis nas Lentes ZEISS BlueGuard?

Graças ao princípio da absorção da luz por oposição à reflexão, o reflexo residual azulado é muito menos percetível.

  • A diminuição dos reflexos na superfície da lente tornaram-se numa grande preocupação para muitos utilizadores de óculos, pois vemo-nos com muita frequência em videoconferências. Se usar óculos de bloqueio da radiação azul, poderá ter reparado na presença de um reflexo azulado, devido à luz artificial (com o aumento do espetro de luz azul da iluminação LED dos edifícios modernos nas divisões e nas secretárias e à sensibilidade da luz azul específica de webcams). Com as Lentes ZEISS BlueGuard, muitas pessoas notam uma redução na quantidade de reflexos e maior visibilidade dos olhos por trás das lentes, em comparação com tratamentos de bloqueio da radiação azul convencionais ou tratamentos com bastantes reflexos.

  • O bloqueio da radiação azul nas respetivas lentes,  é pensado para manter ou melhorar o conforto visual sem quaisquer limitações. Como é óbvio, uma prescrição atualizada e os desenhos das lentes oftálmicas certos, são também fundamentais para uma boa visão.

  • É importante perceber que o bloqueio dos raios UV e da radiação azul são dois conceitos diferentes, mas pode ter a certeza de que as Lentes BlueGuard trazem a máxima proteção UV, até aos 400 nm.

  • Sem dúvida. Foram pensadas para serem usadas durante todo o dia, tanto dentro como fora.

  • São adequadas para pessoas de todas as idades, mas convém sempre discutir as necessidades visuais únicas com um profissional da visão.

  • As Lentes ZEISS BlueGuard também são adequadas para a condução. São lentes para uso diário, tanto no interior como no exterior.


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    Medições e cálculos internos com base na métrica BVB (Bloqueio da luz Azul e Roxa). Análises da Technology and Innovation, Carl Zeiss Vision International GmbH, DE, 2020.